quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pio

Minha mãe costumava recitar um verso de Cecília Meirelles para me instruir sobre os malefícios da gula_
"Uma alentada lagarta roeu sua vida inteira
As folhas de uma mangueira
Nunca ficava farta_
A sua fome estupenda causava estragos mortais,
As folhas viravam renda,já não davam sombra mais."
Mônica Serra,segundo o noticiário,teria declarado que o Bolsa-Família incentivaria uma espécie de ócio no charco,um dolce far niente dos miseráveis.
Recordo-me então da época em que frequentava o corujão do Zona Sul com meu amigo Márcio. E explico-me melhor_Fazíamos compras de madrugada no supermercado.Márcio tinha insônia,e seu automóvel com o fundo enferrujado,rendado,exercia um certo encanto de aventura que me divertia.Não resistia a aceitar o passeio pitoresco.Mas o que importa foi o acontecido em horas avançadas,num tempo invernal.
Estava aguardando o amigo entrar no carro,já que daltônico e sem óculos para astigmatismo,escolhia lentamente e de forma cacete.
Num banco ,na porta do mercado,um jovem descalço aguardava nada.
Eu estava de tênis,(tenho pés grandes;não era novo)_
descalcei-os e fui entregar ao rapaz.
E aí então deu-se o diálogo inesquecível.Não me agradeceu.
Me respondeu:_Desculpe.

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